Edição de Abril – Junho de 2022 | Volume 2, Número 2
A sustentação do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI) brasileiro depende dos fluxos dos conhecimentos científicos, tendo os periódicos o papel de amplificar a difusão destes conhecimentos para a sociedade. Ainda que possamos mensurar o impacto de um periódico pelo número de citações, por muitas vezes não percebemos os demais efeitos desencadeados a partir de seus acessos e utilização. A criação de redes colaborativas de pesquisa, novas aprendizagens nos processos educativos no âmbito da pós-graduação e graduação, o estímulo à criatividade por meio da geração de novas ideias para pesquisas, bem como a combinação de novos conhecimentos para pesquisa e inovação, a partir da difusão científica e tecnológica, são apenas alguns desses efeitos. Atuando como catalisadores destes fluxos de conhecimentos – e até de novas experiências acadêmicas e não acadêmicas que são desencadeadas – é que o valor dos periódicos científicos e tecnológicos para o desenvolvimento do SNCTI deve ser reconhecido.
Ainda que haja esta relevância imersa na natureza de um periódico científico, muitas são as dificuldades em sua missão. A ANPAD realizou uma pesquisa de percepção junto aos editores-chefes e às editoras-chefes de periódicos científicos brasileiros com conteúdo de gestão em seus escopos, com o objetivo de traçar um panorama dos desafios que os periódicos enfrentam em termos de seu posicionamento, indexação e gestão científica. Os(as) editores(as)-chefes dos periódicos nacionais foram convidados(as) a participar desta pesquisa a fim de contribuir com o desenvolvimento de nossa comunidade científica. Relatamos os principais resultados dessa pesquisa e esperamos que a comunidade possa se sensibilizar da prática e desafios dos periódicos.
PERCEPÇÃO DOS(AS) EDITORES(AS)-CHEFES DE PERIÓDICOS EM GESTÃO
A partir da amostra de 101 periódicos científicos participantes no período de outubro e dezembro de 2021, em um universo de 325 periódicos que abarcam conteúdo de gestão, a análise das estatísticas descritivas com base na opinião de editores(as) evidenciou potencialidades e desafiosno âmbito das seguintes dimensões: Sistemas de Gestão e Indicadores, Política Editorial e Ética, Fluxo Editorial, Indexação, Alcance e Internacionalização, Equipe e Financiamento.
A dimensão sistema de gestão e indicadores da amostra de periódicos científicos que abarcam conteúdo em gestão é um ponto observado como positivo, uma vez que mais de 80% utilizam o OJS (Open Journal Systems) como principal sistema para submissão, avaliação, edição e divulgação. Ademais, há um conhecimento declarado por parte de editores-chefes dos periódicos das principais métricas de impacto e de gestão, sendo as métricas de impacto mais conhecidas e observadas no conjunto: H5-Index, citações Google, citações Spell, fator impacto Spell, H-Spell. Já as métricas de gestão mais conhecidas e observadas são quantidade de submissões, tempo de submissão-aprovação, taxa aceite/rejeição, taxa rejeição desk-review, e distribuição regional de autores.
Em relação à dimensão política editorial e ética, foi observado mais de 95% dos periódicos expondo as diretrizes éticas no website para autores, revisores e equipe editorial. Destes, em questão de múltipla escolha, 48,5% utilizam como principais o Manual de Ética da ANPAD e 32% o COPE (Committee on Publication Ethics), estando os documentos visíveis no site, o que sinaliza a incidência de periódicos científicos qualificados nessa dimensão. Já a dimensão fluxo editorial da amostra evidencia que 53% dos periódicos científicos declarou não ter atraso na publicação das edições, 21% declarou um mês de atraso, 10% declarou dois meses de atraso, 10% declarou três ou acima de quatro meses de atraso e 6% optou por não responder. O tempo médio entre submissão e aprovação é de 200 dias. A taxa média de rejeição é de 51%, sendo a média de artigos, no ano de 2021, de 120 manuscritos recebidos e de 31 artigos publicados.
Na dimensão indexação foi observada na amostra a adoção das tecnologias de indexação (DOI, Crossref, ORCID, XML e Crossmark) e as bases de indexação (Google Scholar, Spell, Redalyc, Scielo, Web of Science, Scopus), além do DOAJ (Directory of Open Access Journals). Neste caso, no referente às tecnologias para indexação, 82% utilizam DOI, 67% utilizam Crossref, 57% utilizam ORCID, 47% utilizam XML e 15% utilizam Crossmark. Já em relação às bases de indexação do periódico, 75% são indexados na Google Scholar, 58% são indexados na Spell, 38% são indexados na Redalyc, 10% são indexados na Scielo, 10% são indexados na WOS e 8% são indexados na Scopus.
Em relação ao DOAJ, 69% dos periódicos são indexados. É observado que a indexação em bases mais avançadas é um processo em amadurecimento, e que também requer novos aprendizados. O grau de conhecimento de exigências e procedimentos de indexação em bases e diretórios relatado pelos editores varia de 3,10 a 3,67, em uma escala de 1 (não conheço) a 5 (conheço bastante).
Na dimensão alcance e internacionalização, foram observadas a percepção de alcance do periódico científico e a percepção de potencial de aumento deste alcance em nível nacional e internacional, o grau de participação de editores, pareceristas e autores estrangeiros, o vínculo com publishers, a adoção do site, presença de resumo em inglês, e a aceitação de artigos em língua estrangeira. Neste caso, os dados evidenciam na amostra dos periódicos científicos que há uma maior percepção de alcance nacional (8,44) e percepção do potencial de ampliação do alcance nacional (8,75) para 2022, em escala de 0 a 10. A média no contexto ibero-americano (América Latina, América Central e países de língua portuguesa e espanhola) foi de 4,86 (alcance atual) e 6,13 (potencial) e a média no contexto internacional (Américas, Europa, Ásia, África e Oceania) foi de 2,60 (alcance atual) e 4,42 (potencial).
Já a participação de editores, pareceristas e autores estrangeiros nos periódicos da amostra evidenciou que 91% dos periódicos têm até 25% de participação de editores estrangeiros e 40% têm 0% de participação de editores estrangeiros; 90% dos periódicos têm até 25% de participação de pareceristas estrangeiros e 37% têm entre 1% e 5% de pareceristas estrangeiros; 88% dos periódicos têm até 25% de participação de artigos com autores estrangeiros e 37% têm entre 1% e 5% de artigos com participação de autores estrangeiros; 94% dos periódicos têm até 25% de artigos apenas com autores estrangeiros e 45% têm entre 1% e 5% de artigos apenas com autores estrangeiros.
Em relação à pretensão do periódico científico de estar vinculado a alguma editora (publisher) nacional ou internacional até o final de 2022, 13% estão vinculados, 60% não pretendem se vincular, 10% pretendem se vincular e 17% optaram por não responder. Sobre a adoção do site em inglês pelos periódicos científicos, 59% declaram que já possuem um site claro e compreensível para a audiência global, 24% não possuem, têm interesse, mas não possuem recursos financeiros para implementação e 11% estão em implementação. Os demais constituem periódicos que não possuem, mas têm interesse e recursos (2%), não possuem e não têm interesse (2%) e preferem não responder (2%).
Neste contexto, os periódicos científicos já demonstram prontidão para o recebimento de artigos em língua estrangeira, sendo que 94% já aceitam artigos em inglês, 80% em espanhol e 7% em francês, e 93% já publicam o resumo em inglês dos artigos. Desta maneira, na dimensão alcance e internacionalização, é verificada uma maior percepção de alcance no território nacional e potencial para internacionalização dos periódicos da área ao estarem preparados para receber artigos em inglês e espanhol – e em um processo de migração dos sites para abarcar a língua inglesa. Contudo, ainda há esforços a serem realizados no sentido de ampliar a participação de pesquisadores estrangeiros nos periódicos, nos diferentes papéis.
Em relação à dimensão equipe, é observado um maior desafio no âmbito dos periódicos participantes da amostra, evidenciando uma estrutura enxuta e concentração de funções operacionais em muitos editores. O tamanho médio da equipe de suporte é de duas pessoas, sendo no máximo de cinco em 10% dos periódicos. Em média, as demais funções do fluxo editorial são mais divididas com as secretarias de apoio, nas seguintes atividades e percentuais. Editores se envolvem, em média, nas seguintes atividades: planejamento e diretrizes dos periódicos (86%), análise de ineditismo dos artigos (70%), revisão do artigo (70%), formatação dos artigos (56%), marcação de metadados (34%), produção gráfica (34%), indexação do artigo (56%), atualização do website (38%).
No modelo de financiamento, foi observado que entre os periódicos científicos da amostra, 50% são financiados pelas instituições; 35% são financiados pelas mantenedoras; 9% adotam taxas; 3% são financiados por fundações; 2% dos periódicos são financiados por entidades comerciais; e 1% adota modelo de assinaturas.
Em relação às principais dificuldades e desafios de gestão declarados pelos editores em questão aberta, estes levaram à emergência das categorias de (33%) Internacionalização, (32%) Financiamento, (25%) Indexação, (21%) Gestão-Estrutura, (21%) Engajamento, (7%) Avaliação, (7%) Divulgação e (3%) Desvalorização. Ainda, 95% dos periódicos científicos da área elencam apoio institucional insuficiente para seu desenvolvimento, evidenciando maior necessidade de valorização e engajamento institucional por parte da comunidade, bem como maior relacionamento entre editores.
DIAGNÓSTICO PRELIMINAR DO IMPACTO DOS PERIÓDICOS CIENTÍFICOS EM GESTÃO
A partir do diagnóstico descritivo realizado, emergiu a necessidade de compreensão dos fatores determinantes do grau de impacto dos periódicos científicos visando a seu desenvolvimento. Para evoluir neste diagnóstico, apresentamos a estrutura fatorial da percepção de editores e, em seguida, um modelo estrutural emergente do caminho de influência para o desempenho dos periódicos científicos em gestão.
Sobre a estrutura fatorial
Na análise fatorial exploratória foram identificados seis fatores com resultados estatisticamente significativos dos testes e adequadas cargas fatoriais das percepções dos editores: o conhecimento de indexação, a percepção de alcance internacional, a importância atribuída da indexação, a internacionalização e a indexação avançada. Três principais fatores foram destacados para análise a seguir, pois se compuseram como mais significativos nas relações para o modelo estrutural.
Em relação ao fator conhecimento de exigências e procedimentos para indexação em bases e diretórios (Tab. 1), o maior domínio geral por parte de editores situa-se no Google e DOAJ, ao passo que ainda há menor conhecimento em relação a bases mais avançadas como Web of Science e Scopus. Contudo, os desvios-padrão em relação às médias também revelam uma maior heterogeneidade em relação a este grau de conhecimento.
Sobre o fator internacionalização (Tab. 2), é observado que este é ainda um ponto de desenvolvimento dos periódicos (médias entre 2,58 e 2,27), sendo que o grau de envolvimento de editores estrangeiros nos periódicos científicos ainda é um desafio.
No fator indexação avançada (Tab. 3), este revelou os menores escores dos periódicos, dimensionando o grau de avanço e de investimentos necessários para situar os periódicos nestes indexadores. A análise fatorial exploratória possibilitou maior compreensão sobre a estrutura dos dados, e desencadeou a proposição de um modelo estrutural emergente para compreender determinantes do impacto dos periódicos científicos.
Um modelo estrutural emergente – resultados identificados
A importância de um modelo exploratório dos determinantes do grau de impacto dos periódicos com conteúdo em gestão justifica-se pela ampliação da percepção sobre os fatores mais significativos para a gestão dos periódicos científicos. O modelo foi proposto e testado após seleção de dimensões e variáveis com relações estatisticamente significativas. Foram contempladas como medidas de impacto dos periódicos científicos as variáveis demanda, medida pela quantidade de artigos recebidos do periódico científico; fator H5 Google, como uma referência bibliométrica das citações dos artigos do periódico científico nos últimos cinco anos; e Qualis, enquanto classificador dos periódicos científicos brasileiros, neste caso, de B5 a A2 com publicação no ano de 2017. Já como determinantes de 1º nível, foram adotadas as variáveis maturidade – medida pelo ano do periódico, as dimensões emergentes da análise fatorial, indexação avançada e o conhecimento de exigências e procedimentos de indexação em bases e diretórios (doravante abreviado para conhecimento em indexação), além da publicação da edição em atraso, medida pelo tempo médio de atraso da publicação de edições do periódico. Como determinantes de 2º nível, foram selecionados o tamanho da equipe de suporte, a dimensão internacionalização, também emergente da fatorial, o grau de adoção do site em inglês e a taxa de rejeição dos artigos, coletados na pesquisa com editores. A Tabela 4 resume as variáveis do modelo estrutural.
A análise de caminhos resultou que a demanda de um periódico científico é explicada em 38% por estes fatores determinantes, sejam as medidas de impacto, sejam de 1º e de 2º nível. O primeiro deles é seu fator H5, ou seja, periódicos com maior fator H5 Google tendem a atrair mais artigos interessados (B = 0,617, p ≤ 0,01). Já o fator H5 Google também recebe influência do Qualis – periódicos de maior Qualis tendem a ter um maior H5 (B = 0,756, p ≤ 0,01). A maturidade do periódico é determinante para o Qualis: periódicos mais jovens tendem a ter um Qualis menor, e periódicos mais maduros tendem a ter um Qualis maior (B = -0,462, p ≤ 0,01). Neste caso, a maturidade é o fator que mais impacta o Qualis, e reflete também o processo lento e gradual de consolidação de um periódico, a partir da difusão do conhecimento científico, leituras, citações de trabalhos, em que vai constituindo seu nível de qualidade ao longo do tempo. A indexação avançada é determinante para o Qualis: periódicos que adotam indexadores avançados como Scopus, Web of Science e Scielo também tendem a ter maior Qualis e fator H5, uma vez que tais indexações ampliam a capilarização do periódico em nível internacional. Esta foi a segunda dimensão de maior impacto no Qualis (B = 0,224, p ≤ 0,005). O conhecimento em indexação é determinante para o Qualis, dada também sua relação com a indexação avançada. Essa relação positiva (B = 0,210, p ≤ 0,013) evidencia que o grau de conhecimento nas práticas de indexação, especialmente em bases avançadas, é fundamental para o desenvolvimento do periódico. A publicação da edição em atraso contribui negativamente para o Qualis (B = -0,213, p ≤ 0.003), evidenciando o papel da gestão e do fluxo editorial, bem como do próprio engajamento de avaliadores e autores em relação ao tempo.
Como determinantes de 1º nível, constituem-se os elementos estratégicos a serem observados por editores na gestão de periódicos científicos. Ademais, a análise se propôs a investigar determinantes de 2º nível. Os resultados apontaram que o tamanho da equipe de suporte, no caso, periódicos mais estruturados, também tende a apresentar maior grau de maturidade (B = -0,228, p ≤ 0,039). A Internacionalização (grau de participação de editores, pareceristas e autores estrangeiros na revista) contribui positivamente para a indexação avançada, o que se reflete posteriormente nas medidas de qualidade (B = 0,249, p ≤ 0,008). A taxa de rejeição também apresentou relação significativa com a publicação da edição em atraso – periódicos que adotam maior taxa de rejeição também tendem a ter maior assiduidade na publicação das edições (B = -0,234, p ≤ 0.004). O grau de implementação do site em inglês também se demonstrou preditor estatisticamente significativo do conhecimento em indexação (B = 0,454, p ≤ 0.000). Neste caso, a interpretação é que esta variável reflete, em alguma medida, a competência linguística do periódico científico, o que é preditor para o conhecimento de indexação avançada, uma vez que os serviços normalmente estão em língua estrangeira. A Figura 1 elucida a composição final do modelo estrutural.
O modelo estrutural emergente introduz uma perspectiva original dos fatores determinantes, mas também induz novas questões sobre outros fatores a serem investigados, ou medidos de forma distinta, tais como o financiamento do periódico científico. Em síntese, as relações apontam que ampliar o impacto e a qualidade do periódico (demanda, fator H5 Google, Qualis) é também uma função do grau de maturidade do periódico, de seus esforços em indexação avançada, do aprendizado em indexação em bases avançadas e da assiduidade na publicação das edições, como determinantes de 1º nível. Para isso, foi observado que os investimentos em gestão-estrutura (tamanho da equipe de suporte) e a internacionalização são essenciais, ao mesmo tempo que foram dificuldades críticas declaradas de editores. Soma-se no periódico científico a necessária competência linguística para indexação, e a gestão da taxa de rejeição, considerando a quantidade de artigos recebidos versus publicados. Isso implica também decisões a serem realizadas ainda na fase de desk-review, e que têm implicações em todo o fluxo editorial, bem como na alocação de pareceristas e no tempo despendido, que convergem no fechamento de edições.
DESAFIO PARA OS PERIÓDICOS BRASILEIROS EM GESTÃO
A partir dos resultados do diagnóstico dos periódicos científicos em nível nacional, realizado em 2021 pela ANPAD, emerge a questão: Onde queremos estar daqui a dez anos? Qual deveria ser o panorama desejado do sistema de periódicos científicos em gestão para o futuro? Nesse horizonte, é preciso analisar as potencialidades e desafios presentes. Entre diversos fatores para discussão, o diagnóstico destacou um ponto central, o conhecimento de exigências e procedimentos em indexação de bases e periódicos, e, portanto, o papel do aprendizado e do compartilhamento de experiências deste tema como críticos para o desenvolvimento dos periódicos científicos.
De forma operacional, o trabalho de editores envolve, além de manter o bom fluxo editorial, também avançar nos mecanismos de indexação do periódico, o que requer novos aprendizados e assimilação de novas tecnologias, além de colaboração com diversas áreas internas e externas à instituição. Providenciar o conhecimento das exigências e procedimentos dessas operações via redes e programas de formação parece ser um importante mecanismo de suporte para centenas de editores. Este é um recurso que possibilita a qualificação dos periódicos científicos por meio do avanço no processo de indexação de bases e diretórios com menor tentativa e erro. Portanto, é sugerida a concepção de programas em colaboração entre a ANPAD e outras instituições que envolvam tutoriais, treinamentos, grupos de discussão e troca de experiências no campo de indexação avançada. Tal recomendação estende-se para a organização do fluxo editorial e estratégias para internacionalização, pontos emergentes do diagnóstico tanto descritivo quanto do modelo.
Os periódicos nacionais em gestão hoje têm excelente audiência nos países de língua portuguesa, e desempenham importante papel para jovens pesquisadores e docentes que ainda estão em fases de consolidação das suas carreiras. Pensar nas políticas para os periódicos consolidados e emergentes, bem como para os que têm um foco mais internacionalizado, seja na América Latina, seja para além dela, é uma percepção que perpassa pelas falas de editores e que se reflete também nas premissas do desempenho dos periódicos. Ainda que um seleto conjunto de periódicos mais maduros tenha encontrado um caminho, é preciso observar que o futuro do conjunto dos periódicos científicos em gestão passa por compreender suas potencialidades, bem como desenhar suas estratégias enquanto sistema, e não somente de forma isolada, a cargo de cada periódico. Portanto, é preciso reconhecer as potencialidades existentes nos periódicos nacionais, e debater de forma conjunta caminhos e estratégias sistêmicas de superação destas dificuldades, em colaboração entre todas as partes envolvidas. O papel da difusão do conhecimento científico por meio dos periódicos em gestão é crítico para o desenvolvimento da ciência e das organizações, e a perpetuidade dos periódicos é objeto de discussão, planejamento e tomadas de ação.
Contudo, ainda que estratégias para a qualificação em nível de processos sejam importantes, é preciso também considerar o contexto que circunscreve este processo. Um periódico é parte de um Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, sustentando a difusão do conhecimento científico. A partir das evidências qualitativas da pesquisa, emergem falas de editores acerca de trajetórias de desvalorização dos periódicos científicos como um todo, evidenciadas em conjunto com a falta de apoio institucional, em grande parte dos periódicos. Somando-se a isso, há o desafio de engajamento de avaliadores, o pilar de sustentação do processo de peer review. Essenciais para a publicação das edições de forma assertiva e nos prazos, seu trabalho tem impacto global na qualidade do periódico, conforme observado no modelo testado. Portanto, a discussão de estratégias e ações de engajamento da comunidade científica de avaliadores nacionais e estrangeiros – especialmente em contextos de sobrecarga de trabalho de pareceristas – é crítica para a continuidade dos periódicos científicos, a partir de um olhar no sistema como um todo – uma vez que um(a) mesmo(a) avaliador(a) participa de diversos periódicos. Cabe, portanto, compreender que tipo de reconhecimento busca um parecerista, em diferentes fases da sua trajetória científica. Esta é uma sugestão derivada de pesquisa acerca das motivações para avaliar artigos científicos.
Ademais, para que todo este sistema se mantenha em funcionamento, é preciso também que se discuta o modelo de financiamento dos periódicos, seja para os consolidados, seja para os emergentes. A promoção de fóruns para discussão de modelos de financiamento dos periódicos é também um ponto sugerido e latente, especialmente no contexto em que o Brasil sustenta muitos periódicos científicos que já são de acesso aberto, de qualidade e sustentados pela pós-graduação. Os principais desafios de gestão que editores acreditam que os periódicos devem enfrentar nos próximos anos são muitos, e são relativos à internacionalização – sustentando um corpo editorial de excelência, financiamento, indexação – perante todas as exigências e custos, gestão-estrutura, engajamento, avaliação, divulgação e desvalorização por parte das instituições e agências de fomento. Em síntese, em meio a um cenário de concorrência com os periódicos estrangeiros e progressivos cortes orçamentários, há o desafio de profissionalizar os periódicos científicos, que operam, em expressiva maioria, a partir de um serviço voluntário de seu corpo editorial.
Sendo assim, esse diagnóstico apresenta pontos para debate e discussão da Comunidade Científica de Administração em termos de avaliação, qualificação e desenvolvimento dos periódicos, neste prisma de contribuição para o fortalecimento do SNCTI. Agradecemos a todos os editores que participaram da pesquisa, compartilhando seu tempo e informações, o que possibilitou a geração de novos insights, bem como elementos para debates no sentido de repensar as direções e o futuro do sistema de periódicos científicos desta área.
Texto e pesquisa conduzida pelos professores Mateus Panizzon (PPGA/PPGEP/UCS), Rafael Barreiros Porto (PPGA/UnB) e Rodrigo Assunção Rosa (PPGA/UP).