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Insper lança Manifesto pela Sustentabilidade e reforça papel do Brasil como líder global

Edição de Julho – Setembro de 2025 | Volume 5, Número 3

O Insper divulgou, em 25 de agosto, o Manifesto pela Sustentabilidade, documento que traduz a visão da escola sobre o papel da educação, da ciência e da inovação na construção de um futuro mais justo e equilibrado. A iniciativa reúne prioridades estratégicas para enfrentar desafios como as mudanças climáticas, a preservação da biodiversidade e a redução das desigualdades sociais, reforçando a necessidade de transformar dilemas globais em soluções efetivas no âmbito local. 

O Prof. Vinicius Picanço, coordenador do Programa Avançado em Sustentabilidade (PAS) do Insper e um dos coautores do Manifesto, ressaltou como o documento articula perspectivas globais e locais, ao mesmo tempo em que enfatiza a formação de lideranças preparadas para pensar de forma sistêmica. Segundo ele, esse é um passo fundamental para consolidar o Brasil como referência mundial em práticas sustentáveis — em sintonia com o tema do EnANPAD 2025, que coloca em pauta a relação entre gestão, identidades, experiências locais e desafios globais. 

Foto: Diego Ubilla (@dubillafoto)/Insper – Evento de Lançamento do Manifesto Insper pela Sustentabilidade, realizado em 25/08/2025. Priscila Claro, Diretora de Graduação e Vinícius Picanço, Coordenador do Programa Avançado em Sustentabilidade, coordenam juntos o Núcleo de Sustentabilidade e Negócios do Insper.

 

O tema do EnANPAD 2025 destaca a importância de reconhecer identidades e experiências locais na busca por soluções sustentáveis. Como o Insper entende essa relação entre o local e o global em sua atuação e no Manifesto? 

Os fenômenos que impulsionam os desafios de sustentabilidade são globais. Mudanças climáticas, por exemplo, são um problema em que todos estão no mesmo barco — ainda que as pessoas sofram de formas muito diferentes. É nesse ponto que entra o local. 

O Manifesto se ancora em três grandes dilemas: mudanças climáticas, perda de natureza e biodiversidade, e desigualdades sociais. Todos esses desafios afetam a população globalmente. Porém, as ações e políticas precisam ser pensadas no nível local, porque cada lugar impõe um contexto e uma necessidade específica, exigindo respostas diferentes. 

Isso é muito emblemático no Brasil por dois motivos. Primeiro, porque o grande impulsionador da mudança climática aqui não é a energia, como nos países ricos, mas o desmatamento e o uso do solo. Segundo, porque somos um país continental. Sentimos os efeitos desse problema de maneira diferente e em grande escala. 

Não podemos perder de vista os efeitos globais, mas precisamos traduzi-los em políticas locais para que sejam efetivas. O Manifesto e o Insper dialogam diretamente com isso ao olhar para diversidade, representatividade, formação de lideranças e desenvolvimento de conhecimento aplicado. 

Falar de sustentabilidade, portanto, é falar desse “de-para”: o vai e vem entre perspectivas globais e locais. Isso está no cerne do Manifesto. O Insper, embora tenha conexões globais, é uma instituição local. Sabemos da importância de nos articular com universidades, empresas e atores públicos de outras regiões, que conhecem seus contextos mais profundamente do que nós. 

Não adianta falar apenas de governo federal ou estadual e esquecer dos municípios, porque é neles que a vida se dá. Educação, saúde, transporte — tudo acontece no município. Urbano ou rural, não importa: é nesse nível que o cotidiano se concretiza. Por isso, o território importa, ao trazer contextos muito específicos que precisam ser considerados. 

O EnANPAD 2025 propõe repensar modelos de gestão muitas vezes pouco adaptáveis às demandas emergentes. Como o Manifesto pela Sustentabilidade e a atuação do Insper podem contribuir para a formação de líderes preparados para esse cenário? 

Há uma frase de Jay Forrester, pensador sistêmico, que diz: os problemas de hoje são efeitos de soluções de curto prazo do século passado. O pensamento que otimiza as decisões de curto prazo pode ser muito tentador por trazer resultados rápidos, mas pode gerar efeitos nefastos no longo prazo. 

No Manifesto, afirmamos que sustentabilidade é caminho e resultado. Não pode ser só uma coisa nem outra. As mudanças necessárias são estruturais, de longo prazo. 

Por isso, preparar lideranças com novas ferramentas e formas de pensar, especialmente pela perspectiva sistêmica, é fundamental. Pensar de forma sistêmica é enxergar as inter-relações entre as coisas. Emergências climáticas, perda de biodiversidade e desigualdades sociais não vivem isoladas: estão conectadas, e é nesse emaranhado que está a chave para gerar respostas efetivas. 

Essa visão está entre as competências fundamentais do Insper. Incorporamos o pensamento sistêmico em sala de aula e em várias outras áreas. Sustentabilidade em gestão significa reconhecer que os problemas das organizações não acontecem de forma isolada, mas dentro de sistemas econômicos e sociais, em um planeta com limites biofísicos claros. 

O Manifesto fala em transformar o Brasil em líder global em práticas de sustentabilidade. Como essa visão pode se conectar às discussões que emergem de um evento como o EnANPAD?

É simbólico estar no Nordeste, em Aracaju. Da mesma forma que é simbólico realizar a COP30 na Amazônia, em Belém. Esses eventos lançam luz sobre a territorialidade, sobre o microespaço onde a vida realmente acontece. 

Pensar em um Brasil líder é retomar uma ambição antiga. Muitas vezes tentamos decolar, mas sempre havia um empecilho. Acredito, porém, que a sustentabilidade é a nossa pauta vencedora. O soft power do Brasil sempre esteve ancorado nela. Sempre tivemos liderança e pessoas altamente competentes nesse tema. O Insper se inspira nesse histórico e acredita que ainda podemos fazer muito mais para consolidar o Brasil como referência mundial. 

Nosso papel, junto ao ecossistema da ANPAD, é aprimorar a gestão, preparar líderes e desenvolver conhecimento e ferramentas para que gestores se apropriem dessa visão e a coloquem em prática. O tempo é curto: sustentabilidade exige visão de longo prazo, mas os efeitos já estão batendo à porta. 

No Manifesto, afirmamos que queremos transformar o Brasil em líder global em práticas de sustentabilidade, tanto na esfera pública quanto na privada. Isso envolve a gestão de empresas, governos, órgãos de controle e empresas públicas. Retomar e alavancar essa liderança passa por resgatar a pauta de forma concreta, de modo que gestores e gestoras a incorporem em suas decisões.

Você comentou anteriormente que a sustentabilidade é apresentada no Manifesto como caminho e resultado. Como o Insper pretende traduzir essa visão em ações concretas e em impacto real para a sociedade? 

A principal ação que deriva do Manifesto é a estruturação da Plataforma Insper de Sustentabilidade. É um mecanismo organizado para acolher demandas do mercado e da sociedade em sustentabilidade, combinando-as com as competências do Insper. 

Hoje fazemos muita coisa sobre esse tema, de forma pulverizada. Temos, por exemplo, o Centro de Estudos em Cidades, que trabalha com adaptação climática, justiça climática, resiliência de comunidades e mobilidade urbana. Outros exemplos incluem o Núcleo de Agro Global, que tem focado muito na pauta ambiental no agronegócio, e o Núcleo de Sustentabilidade, dirigido pela Prof.ª Priscila Claro e por mim, no qual desenvolvemos pesquisas e cursos focados em integrar sustentabilidade à estratégia e às operações de organizações. 

A plataforma vai unir esforços, desenhar projetos ainda mais efetivos e alavancar recursos. O Manifesto é o nosso norte, e a Plataforma busca transformar o Insper em um ponto de encontro do tema da sustentabilidade, gerando encontros e ações coletivas em torno dessa pauta tão urgente e necessária. 

Vinicius Picanço é coordenador do Programa Avançado em Sustentabilidade e do Núcleo de Sustentabilidade e Negócios, além de professor assistente do Insper. Honorary Research Fellow na University of Strathclyde (Reino Unido), possui PhD em Engenharia de Produção pela Danmarks Tekniske Universitet (DTU), com período como pesquisador visitante no MIT, além de um Graduate Certificate em Logística e Cadeia de Suprimentos (GCLOG) pela mesma instituição. É membro do Conselho do The Good Food Institute e pesquisador afiliado do Food and Retail Operations Lab (FaROL) no MIT. Sua pesquisa aplicada foca os impactos ambientais e sociais das cadeias de suprimentos e, além da carreira acadêmica, fundou startups premiadas no Brasil e uma consultoria em sustentabilidade na Dinamarca, conectando teoria e prática em soluções de impacto. 

Conheça aqui o Manifesto Insper pela Sustentabilidade: 

https://www.insper.edu.br/pt/quem-somos/manifesto-insper-sustentabilidade 

Publicado por Carolina Aguiar em 19/09/2025 às 13:10