Um dos grandes orgulhos de nossa associação é a base referenciada e indexador SPELL (Scientific Periodicals Electronic Library). Os mais novos não acompanharam, mas, desde 2011, temos envidado esforços e recursos para a construção do que se tornou uma referência para leitores, editores de revistas nacionais e autores que buscam conhecer as revistas da área no Brasil. Ao longo de dez anos de desenvolvimento e manutenção, foram mais de R$ 3 milhões investidos junto a desenvolvedores e prestadores de serviços, mas os benefícios são grandes e compensadores.
Em breve palavras, a SPELL reúne as coleções de mais de 132 dentre as melhores revistas de Administração, Contabilidade e Turismo no Brasil. Algumas revistas têm coleções desde 1961 listadas na base, que conta com mais de 55.020 artigos cadastrados.
Como um dos requisitos para o periódico ser listado na base é permitir consulta aberta (ou seja, sem custo para leitura on-line), todos os artigos estão disponíveis para acesso, o que representa uma ampla fonte de consulta para estudantes de graduação e pós-graduação em todo o Brasil e em países lusófonos. O valor agregado que pode ser extraído para o desenvolvimento da pesquisa na área ainda está a ser explorado.
A SPELL também ficou conhecida pela divulgação anual do Fator de Impacto das revistas, o qual mede o quanto os artigos de um periódico cadastrado na base são citados por artigos em outros periódicos que também fazem parte dela. Apesar de todas as críticas que os fatores de impacto vêm recebendo, sobretudo pelo uso indiscriminado na avaliação docente, trata-se de uma importante ferramenta para avaliação editorial das revistas. Somado com outros índices, o Fator de Impacto ajuda o editor e conselhos editoriais a planejarem o periódico.
Mas a SPELL pode ir além. A atual Diretoria está dando continuidade às melhorias que estavam em andamento e em breve convidará os associados para uma conversa sobre novos usos da base. Para começar a expansão da SPELL, nos últimos meses a ANPAD lançou pesquisa entre usuários da base para conhecer os usos mais freqüentes e a percepção sobre a ferramenta. O estudo teve duas fases. A primeira foi exploratória e permitiu o desenvolvimento de um questionário para a segunda fase, quantitativa. O questionário, com 32 questões (tipo Likert de 11 pontos), cobriu temas como a familiaridade do usuário com a base, benefícios percebidos, uso do fator de impacto de periódicos pelos autores, expansão da base e eventuais críticas à ferramenta e ao seu uso continuado.
Agradecemos aos membros da comunidade acadêmica que participaram da validação de conteúdo e da construção do instrumento de coleta de dados e que nos ajudaram a aprimorá-lo. O link do questionário foi enviado por e-mail para mais de 2,9 mil Associados Individuais e ficou aberto para resposta entre 07 e 31 de dezembro de 2020.
Recebemos 231 respostas completas (6,1% de margem de erro, com intervalo de confiança de 95,0%). Nas tabelas a seguir (1 a 6), mostramos os principais resultados, com os itens agrupados com base numa análise fatorial exploratória. Tendo em mente a escala (0 a 10), a Tabela 1, que trata da familiaridade do usuário com a base SPELL, aponta a necessidade de maior divulgação dos benefícios e usos da base.
Em relação aos benefícios percebidos da SPELL (Tabela 2), destaca-se a gratuidade do serviço. O uso da SPELL é valorizado pelos usuários para fins de consultas, as quais, entretanto, ainda podem ser ampliadas. Na perspectiva do autor, a percepção de maior visibilidade do trabalho publicado nos periódicos da base é mediana. O mesmo acontece em relação à atividade docente desse autor, o que abre oportunidade para a ANPAD dialogar com docentes e indicar como o material ali listado pode ser usado. Uma das possíveis soluções seria a criação de listas temáticas ou reading lists com artigos da base para inclusão nos programas de disciplinas de graduação ou de pós-graduação.
Já em relação ao uso do fator de impacto de periódicos na SPELL pelos autores (Tabela 3), parece que essa não é a principal preocupação entre os respondentes. Em parte, o resultado é explicado pelas respostas de alunos de pós-graduação e graduação (37,2% da amostra), haja vista que não faz parte da atual motivação de suas carreiras seguir o fator de impacto dos periódicos. Todavia, quando se vai além da tabela e se observa o perfil de pesquisadores/professores e membros de equipe editorial (62,8% da amostra), as médias de uso são mais altas, refletindo que esse público acompanha com maior proximidade o desempenho dos periódicos na base. É uma de nossas prioridades conferir maior transparência às métricas dos periódicos da SPELL e propor a criação de novas métricas.
E o que os usuários pensam sobre a expansão da SPELL? Entre os respondentes existe alguma expectativa de que a base poderia crescer com a entrada de outros periódicos, incluindo outras áreas de conhecimento (Tabela 4). Uma questão que estamos contemplando toda vez que temos contato com a base é que sua maior virtude e vocação são para o público nacional, dado que é composta de coleções essencialmente em português, com periódicos cujas políticas editoriais estão voltadas para o público nacional. Trata-se de um aspecto que não a torna menos importante – pelo contrário: a SPELL ocupa um espaço que outras bases referenciadas, como a Scopus e a Web of Science não alcançam e não conseguirão alcançar. Assim, gera um índice de impacto de revistas e artigos nacionais que de outra forma estariam totalmente excluídos da atenção do leitor nacional. A SPELL é uma janela necessária que congrega a publicação nacional na área. Dissemina conhecimento com rigor científico nacionalmente, e talvez essa seja sua maior missão e virtude. Contudo, a internacionalização da produção nacional é uma discussão que gostaríamos de ampliar com a comunidade de associados.
Quais os principais pontos de crítica em relação à SPELL? Como boa notícia, as críticas são de certa forma amena. Porém, são curiosas as seguintes percepções: “corro o risco de não acessar todas as informações de que preciso para realizar as minhas atividades acadêmicas” e “não disponibiliza todas as informações necessárias para eu realizar as minhas atividades acadêmicas”. Essa evidência reforça uma das mais freqüentes consultas feitas por usuários via e-mail: “como faço para publicar [meu artigo] na SPELL?”. São questões que podem ser trabalhadas mediante uma melhor comunicação aos usuários.
Por fim, para agregarmos valor e aumentarmos o uso continuado da SPELL (Tabela 6) consideramos que temos de explorar novas oportunidades de uso. A base referenciada em si e as métricas dedicadas às revistas nacionais (as quais, se não fosse a SPELL, não teriam chance de terem seu impacto medido) são uma grande contribuição ao campo como um todo. Contudo, aqui devemos buscar agregar valor aos diversos tipos de usuários. Leitores, autores, docentes e editores de revistas, para citar alguns, têm necessidades diferentes. Docentes podem usar o material na base com uma curadoria por temática para indicarem em suas disciplinas de graduação e pós-graduação. Autores podem encontrar comunidades trabalhando no mesmo tema e construir network, identificar membros potenciais de bancas e solicitar feedbacks a autores que lidam com o mesmo tema. Editores podem usar muita informação ali presente de forma estratégica para a gestão editorial. Os usos são muitos, e a ANPAD pode conjuntamente extrair mais valor dessa grande iniciativa.
Nota.